Como começar uma consultoria de RH?
Luaira Paraizo
Começar seu próprio negócio é um desafio que certamente exigirá muita dedicação, inteligência emocional, paciência e foco.
Mesmo com o avanço da tecnologia, ainda há um grande leque de mercado e de opções de atuação para quem tem interesse em empreender na área.
Deixei, abaixo, cinco etapas que auxiliarão você, que deseja ter a sua própria consultoria de RH.
1. DESENHE SEU MODELO DE NEGÓCIO
A primeira etapa consiste em modelar seu negócio. Existem diversas metodologias para isso, mas recomendo o Business Model Canvas (“BMC”, para os íntimos).
Há várias possibilidades de atuação no RH, como consultoria generalista, recrutamento e seleção, treinamento e desenvolvimento, Departamento Pessoal e assim por diante. Porém, tentar fazer de tudo quase sempre não é uma boa ideia, principalmente no começo. Vale lembrar que diferentes segmentos têm diferentes características, padrões, jargões, expectativas, orçamentos, processos, cadeias decisórias, graus de urgência e necessidades. Quando nossos recursos são muito escassos, é muito melhor concentrarmos eles em uma pequena área, com foco “laser”, do que diluí-los em áreas grandes.
Tenha certeza sobre a suas ofertas de serviços desde o início, garantindo que sejam claras e assertivas; elas devem poder ser transmitidas em uma conversa rápida de elevador, sem hesitação.
Não há problema caso você decida mudar de ideia no decorrer do tempo, mas ao menos reflita sobre todas as opções e tenha alguma clareza antes de começar. Reserve um tempo para isso.
Se puder, contrate uma consultoria para montar um Business Model Canvas com você; ter um terceiro fazendo isso é importante para agregar uma visão de fora e também porque, neste processo, você terá que responder perguntas difíceis, que te forçarão a desenhar um negócio mais sólido e com mais chances de prosperar. Modelar um canvas por conta própria é como conversar consigo mesmo; montar um canvas com um consultor, ou com um grupo, gera uma troca riquíssima que te fará economizar muito tempo, pode acreditar.
Além das vantagens de mercado, ao entender com clareza qual é o seu público-alvo, quais serão as estratégias para atendê-lo e qual é seu cardápio de serviços, você terá muito mais facilidade para escolher a estrutura jurídica certa para a sua empresa.
2. FAÇA UM PLANO DE AÇÃO
Com um modelo de negócios claro em mãos, esqueça o Planejamento Estratégico. A ideia idílica de um documento com centenas de páginas contendo previsões de negócios detalhadas que se realizam como uma profecia é muito atraente mas raramente é factível. Planejamentos estanques só servem para serem guardados na gaveta pouco tempo depois, principalmente nestes tempos líquidos, em que o impensável atingiu a humanidade e todos estão precisando se adaptar radicalmente para sobreviver. Acha que alguma empresa tinha a possibilidade de uma pandemia mundial contingenciada nos seus planejamentos? Claro que não. Pra que se planejar com tantos detalhes, então? É perda de tempo.
Por isso, o primeiro passo é modelar seu negócio; uma modelagem é feita com post-its justamente porque é feita para ser ajustada e adaptada com o tempo, ao sabor da conjuntura, circunstâncias e resultados práticos de mercado. Não é algo escrito em pedra, é um documento vivo e em constante evolução. Always beta. É como a água, que se adapta a qualquer forma que é inserida. “Be water, my friend!” (Bruce Lee).
Ao invés de um Planejamento, faça uma decupagem de todas as ações práticas que serão necessárias para materializar o negócio que você modelou na etapa anterior. Em seguida, pegue todas essas ações e as subdivida em pequenos grupos, que podem ser executados em um dia, em ordem crescente de dificuldade. Assim, gere pequenas checklists diárias. Isto será seu plano de ação. É muito mais útil e prático do que um planejamento encadernado e poderá ser revisto e atualizado a qualquer momento, se a conjuntura e/ou as circunstâncias mudarem de uma forma que essas ações não façam mais sentido.
Transfira seu plano de ação para um documento, sempre buscando ser o mais objetivo possível, para que seja fácil revisitá-lo e atualizá-lo constantemente.
Apesar disso, é preciso que você estime, projete seu fluxo de caixa, com base em pesquisas de mercado. A partir do momento que inicia uma consultoria independente, você passa a ter uma série de custos, investimentos e despesas recorrentes. É uma responsabilidade adquirida mas que, sendo bem exercida, possibilita um bom retorno financeiro. Faça uma projeção em três cenários — otimista, conservador e pessimista. Estas projeções não devem ser tidas como vaticínios, e sim apenas como parâmetros para avaliar como está seu estado atual, quando entrar em campo, de modo a orientar os ajustes necessários para te aproximar do cenário otimista.
Consultorias, em geral, podem ser muito lucrativas. A consultoria voltada para o RH não é exceção. Mas, para que dê certo, você precisa de um plano de ação bem fundamentado e com pés no chão.
Pode ser estratégico optar, por exemplo, que seu negócio fique inicialmente em segundo plano. Melhor dizendo, caso você ainda esteja empregado(a) em uma empresa, procure tratar sua consultoria como um plano B, porque os primeiros meses por conta própria são os mais difíceis. Procure postergar o momento de pedir demissão até quando já tiver pelo menos um cliente em vista.
Opte por começar com serviços rápidos e escaláveis. No começo, mais vale um serviço com ticket baixo mas que pode ser entregue rapidamente, em escala e em grandes pacotes do que um projetão com ticket relativamente alto mas que não tem escala e demandará todo o seu tempo e energia, não te deixando com disponibilidade para rentabilizar mais nada.
3. CULTIVE SEU NETWORK
Antes de iniciar a sua independência profissional, você precisará de apoio, e nada melhor do que os contatos certos. Estes contatos são pessoas que poderão te ajudar em algum momento, por isso é importante tê-los sempre por perto. A sua caminhada rumo ao crescimento profissional nunca será feita sozinha.
Inventarie seus familiares, amigos, colegas, ex-colegas, clientes, fornecedores e pessoas em geral que você conheceu ao longo da sua vida. Utilize as redes sociais, como Facebook e Linkedin, para te auxiliar neste inventário.
Em seguida, comece a se relacionar com estas pessoas despretensiosamente. Apenas converse com elas, veja se pode ajudá-las em algo, as deixe informadas sobre o que você está fazendo agora e o que planeja para o futuro próximo. No máximo peça indicações de outras pessoas que você poderia conversar ou ser aconselhado sobre seus planos. Aproveite e ouça-as, pois, na maioria das vezes, te trarão ótimas ideias, que você poderá agregar à modelagem. Networking não tem vendas e/ou pedido de ajuda logo de cara (a não ser que a pessoa peça diretamente). Quando bem feito, é uma arte, um trabalho de cultivo. Ao invés de ser evitado(a), as pessoas tendem a te agradecer, falar “que bom que você ligou”! Você vira um elo entre muitas pessoas diferentes e, por isso, acaba virando um contato muito valioso também.
Os efeitos de um networking bem feito demoram para acontecer, são orgânicos, levam um tempo de maturação. Da mesma forma, conseguimos as melhores oportunidades justamente quando não estamos afobados e desesperados.
Por isso, deve ser feito com calma, devagar e sempre, principalmente quando estamos bem. Correr para seus contatos só quando está em maus lençóis não é uma boa prática. Se fizer isso, o desespero exalará pelos seus poros e todos serão, instintivamente, menos receptivos e generosos, mesmo com boas intenções. É horrível ser lembrado como alguém que só aparece quando precisa de alguma coisa. Pior ainda é tentar se vender quando acabou de conhecer um novo contato: “Oi, prazer, aqui está meu currículo, tem alguma coisa pra mim?” — não faça isso, por favor.
Networking é processo: tente, numa semana, almoçar com pelo menos duas pessoas diferentes. Isto, claro, sem a pandemia. Durante a pandemia, convide as pessoas para um café virtual pelo Skype ou Zoom, costuma dar muito certo!
Se fizer isso corretamente, terá ativos de confiança acumulados para quando precisar de indicações-chave que podem fazer toda a diferença na sua vida; por exemplo, uma indicação de cliente para sua consultoria.
4. UTILIZE O MARKETING DIGITAL
Depois de fundamentar o seu objetivo empresarial e ter definido quem você deseja atingir, agora é o momento de você refletir sobre como tornar isso realidade. E a maneira mais barata de fazer isso é através do marketing digital.
Existem inúmeras estratégias para conquistar novos clientes. É possível, por exemplo, alavancar seu posicionamento nos resultados de busca de pesquisas utilizando técnicas de SEO. Ou fazer anúncios pagos no Google Ads ou em redes sociais. Pode ser fazer parcerias de negócios com empresas do mesmo campo semântico, ou até mesmo fazer anúncios à moda antiga (como jornais, revistas, eventos presenciais etc.), e muitas outras coisas. O importante é ter criatividade e definir seus diferenciais.
Aconselho que não se limite a apenas uma forma de marketing. Procure diversificar entre métodos mais rápidos e mais lentos.
Exemplos de métodos rápidos:
- Ativar base atual de clientes;
- Google Ads;
- Linkedin Ads;
- Entrar em contato direto com prospects quentes.
Exemplos de métodos lentos:
- Escrever artigos no site próprio ou de terceiros;
- Produzir conteúdos estratégicos nas redes sociais;
- Gravar vídeos com conteúdos sobre sua especialidade.
Os métodos que são tidos como mais lentos são semelhantes a uma bola de neve; crescem exponencialmente ao longo do tempo. Estes meios lentos tendem, inclusive, a substituir os meios que são mais rápidos e, consequentemente, mais caros. Por isso é importante fazer os dois ao mesmo tempo, um não exclui o outro.
5. COMECE A CONSTRUIR A SUA PRESENÇA DIGITAL
Profissionalize seus perfis de redes sociais e comece a produzir conteúdos originais e relevantes. Pare de postar sobre assuntos polêmicos e pessoais. Comece a ser lembrado pelo que é capaz de oferecer de valor.
Em paralelo, levante um site próprio, com blog. Ajuda muito a conquistar confiança, obter dados ricos sobre suas personas, desenvolver conteúdos para futuras vendas, vender espaço publicitário, construir seu mailing e fazer boletins informativos para obter novos clientes quando você se lançar no mercado.
É fundamental que o seu site e endereços de e-mail tenham um domínio próprio. Não há problema em começar com algum recurso gratuito, como o Wix, por exemplo. Mas o ideal é ter o seu site próprio o quanto antes, porque, no mundo do RH, as aparências contam muito, e não possuir site próprio e endereços de e-mail personalizados transmite falta de estrutura e de perenidade, o que dificultará bastante suas vendas.
Além disso, quanto mais tempo você demorar para resolver definitivamente seu site, mais complicada fica a criação dele, pois serão mais conteúdos para migrar e maior será a perda de tráfego orgânico que já estava sendo obtido pela versão provisória.
CONCLUSÃO
Espero que estes cinco passos te ajudem a começar a sua consultoria de RH. Retomei-os resumidamente abaixo, para que você os anote e os siga como um checklist:
1. Desenhe seu modelo de negócio;
2. Faça um Plano de Ação;
3. Cultive seu network;
4. Utilize o marketing digital;
5. Comece a construir a sua presença digital.